Sentia-me atraído por qualquer coisa que ia além da beleza quantificável e superficial, por algo de mais profundo e absoluto. Da mesma maneira que há quem idolatre secretamente os dilúvios, os abalos de terra ou os apagões, também eu preferia aquele indefinível não-sei-quê dirigido à minha pessoa pelas representantes do sexo oposto. A esses sinais vou chamar "magnetismo", à falta de uma palavra melhor. Uma força de atracção que, goste-se ou não, nos atrai sem apelo nem agravo e toma conta de nós.
Como o aroma de um perfume, seria talvez a comparação mais aproximada. Talvez nem mesmo o mestre perfumista consiga explicar por que motivo uma combinação de fragrâncias em concreto possui um determinado poder de sedução. Ainda que, cientificamente, seja difícil de explicar, a verdade é que a combinação de certas fragrâncias logram atrair o sexo oposto como acontece com o odor dos animais durante o período do cio. Um determinado aroma pode exercer um forte domínio sobre cinquenta pessoas, num total de cem. Um outro odor agradará às cinquenta restantes. Contudo, existem igualmente essências capazes de excitar loucamente os sentidos de apenas duas ou três pessoas. E eu sou um dos que tem a percepção de reconhecer automaticamente esse aroma especial. Quando tal acontece, sentia o desejo de me aproximar das mulheres que exalavam o dito perfume e dizer-lhes: "Olha que eu compreendo, sabes? Os outros não se deram conta, mas eu, sim".