Inventem-se Novas Palavras

Isto é um manifesto.
Um manifesto os políticos, aos outros países que nunca tiveram o (des)prazer de conhecer a lingua portuguesa, a seja quem for que mande nas palavras e tenha o dom de fabricar novas.
Aliás, quem é que fez as palavras? Desde que me lembro que me pergunto porque é que uma mosca se chama "mosca", porque é que uma mosca não pode ser pura e simplesmente um "casaco". São letras. Mosca em polaco nem sequer quer dizer absolutamente nada. Não proponho uma linguagem universal, nunca foi essa a questão. É tão estranho como ter moeda comum (e grande parte dos coleccionadores perderiam o seu trabalho, assim como toda a informação gira para as gerações futuras) ou toda a gente ter de comer batatas ao pequeno almoço. Não. E eu amo com todo o meu coração a língua portuguesa. É apenas um manifesto para que se inventem novas palavras. Algumas estão velhas. Usadas. Perderam o sentido, o toque que as diferenciava das outras só por serem repetidas vezes e vezes sem conta, como um hábito. Não são refeições, são palavras. É graças ás palavras que existem sequer refeições. Deviam estar-lhes gratos por isso, e não usá-las com desdém, como que vomitadas pela boca fora. Até porque as palavras são das poucas coisas que não podemos vomitar ou expelir de nenhuma outra maneira do nosso corpo sem a nossa autorização. Sem necessidade. Podemos perfeitamente viver sem elas. Se assim tiver de ser...
Chegamos ao ponto de ter de "inventar" a poluição verbal. A poluição verbal acontece todos os dias, e certamente que nem preciso de mencionar nenhum exemplo para irem direitinhos ao ponto onde quero tocar. As linguas estragam-se, e com elas a nacionalidade. As identidades. Terei de... falar outra vez as palavras?
Palavras como música. Tenho ouvido falar tanto de música, da música, que adoro música,que oiço música quando acordo, quando me deito, quando lavo a roupa, que não vivo sem música, sem a música. Peço que me perdoem já, porque eu também gosto dela. A sério que gosto, e bastante. Mas porquê? Porque a música une as pessoas. Isso eu já sabia. Também já sabia que se toda a gente falasse dos interesses que poderia ter com a outra pessoa, meu deus. Todas as palavras estariam gastas à velocidade da luz. Lá porque a música une o mundo, não significa que seja a única. Dêem-lhe descanso. Deixem-na dormitar nas suas pautas e artistas, não a repitam vezes sem conta! Chamem-lhe arroz, ananás ou rolo. Inventem novas línguas, novas maneiras de se expressarem. Não se fiquem pelo conhecido...
Quem fez as palavras, fê-las muito bem. Bem desenhadas, acessíveis. Só que agora, anda cansado. Fartou-se. Da música. Do Sol. Fartou-se de lhes dar novas letras e significados, como eu me farto de as escrever. Como dizia o outro em poucas palavras, "tenho mais prazer em ler do que em escrever". Já somos dois. Se for eu a escrever, posso sentir remorsos por usar palavras já usadas tantas vezes antes... Perco a minha originalidade, mesmo sendo original. Se forem outros a escrever. Passa a ser problema deles.