In love with a french singstar

Hans o empresário alemão que fala pouco e come muito, despeja o frasco de colónia pegajosa na palma da mão e espalha-a pelo pescoço rechonchudo, apertado num nó de gravata feito à pressa, sem nenhum toque de mulher ou de qualquer outro que não o seu, apressado e sem jeito para embelezar as coisas.
E foi assim que Hans abandonou o quarto de hotel, todo apertado num fato Armani dois tamanhos abaixo, a cheirar a colónia pegajosa, com o cabelo loiro igualmente pegajoso colado à testa suada. Hans não gostava de pensar em si como um homem deselegante, mas a verdade é que Hans era muito mais que isso. Tresandava. A negócio milionário, a dinheiro em grande escala, a suor gorduroso do regime alimentar que levava. Não fumava, não bebia mais do que um piriquito e não compreendia de que maneira causava aquele asco nas mulheres, em todas elas. Como se ele fosse uma mosca que toda a gente tem vontade de afastar, não porque é chata mas porque não se sabe onde a mosca andou. A mosca não fala, não conquista ninguém. Hans devia sentir mais compaixão pela mosca, mas não sentia. Ignorava-as, como ignorava todas as outras pessoas que não lhe trouxessem riqueza imediata, ou que não se colocassem ao seu dispor. Hans nunca tinha amado nenhuma mulher que não tivesse pago, e isso chateava-o, quase tanto como perder 15 euros para uma operadora de telemóvel. Não era especialmente amável mas como disse, não era também capaz de compreender a necessidade das mulheres de se verem longe dele, da mesma maneira que uma pessoa nunca reconhece o seu próprio cheiro, ás vezes por muito asqueroso que seja. Cheiro de refogado, comida mal cozinhada e voltada a fritar em frigideiras mal lavadas, gordurosas, a pingar melaço e bolor. Hans não gostava de banho. Fazia lembrar um arábe, coberto de roupa para disfarçar a porcaria entranhada no próprio corpo, mas que sem se importar, andava no meio das pessoas como uma delas. Como um cisne disfarçado de abutre.
Não foi de estranhar quando ao chegar ao restaurante que clientes interessados em investir no seu negócio de amendoins lhe apertassem a mão levemente, franceses sempre dignos da França, limpos e altivos com os seus narizes finos de narinas largas, muito abertas, muito capazes de captar todos os cheiros do mundo, até mesmo os mais escondidos debaixo de uma colónia extremamente barata usada como a lexivia é usada para disfarçar o sangue no chão das casas de banho públicas. O nariz do francês mais alto não gostou do que sentiu; torceu-se e pensou no alemão que cheirava mal, no alemão que tinham de suportar para bem do seu negócio, que o amendoim hoje em dia é um investimento crescente, se ao menos ele cheirasse a amendoim, ou até mesmo a elefante...
- Hans, esta é a minha mulher, Gabrielle. Tem uma voz de anjo.
Gabrielle sorriu delicadamente, e tão delicadamente como tinha sorrido, apertou-lhe a mão gorda com prazer; ele sentiu-lhe os dedos finos e frescos entre os seus quase como raminhos de alecrim, tão frágeis.
Que linda que ela era. Não era propriamente uma mulher alta, mas muito elegante. Fina, delgada e branca como mármore, contrastando com o vestido preto suave que lhe lineava as curvas, os seios de pêssego, os mamilos como chuchas arrebitados na direcção de Hans gordo, que suava por todos os poros só de sentir o contacto da mulher fina do francês que torcia e retorcia o nariz de águia, tinha vontade de agarrar na sua Gabrielle e a desinfectar, algo que pediria à criada mal pusessem o seus reais pés em casa.
- Cherie, tenho de passar na casa de banho.
Hans seguiu a escultura até ao seu destino, passando os olhos pela sua cintura, pelo seu traseiro pequeno e redondo, balançando como um pendulo na sua direcção, chamando-o para a seguir, anda Hans há mais cá dentro ... Tirou do bolso um lenço branco e passou-o pela cara pegajosa, à muito tempo que não imaginava nenhuma mulher, e muito menos via uma tão real e palpável como Gabrielle, a doce Gabrielle de voz de anjo.
Mas que podia ele fazer, ele, o empresário gordo que sonhava com francesas de corpo de estátua e pele de marfim, que não mereciam estar casadas com franceses mas sim no trono de um alemão, nas suas grandes mãos cabia o seu peito pequeno e saboroso, ai, tão saboroso como uma real pêra, para ser disfrutada numa noite de Verão, de Inverno, ou de outra qualquer estação do ano! Logo Hans, que tresandava a suor, tanto que até ele próprio o começava a sentir pingar entre as suas partes intimas, para o chão, passando o fato caro e as cuecas baratas.
- Tenho de me ausentar, parece que ainda agora cheguei e já bebi demasiado vinho! - disse em tom de brincadeira forçada, não tinha tocado ainda numa pinga, e o francês fez que sim com a cabeça mostrando uma fila de dentes perfeitamente alinhados e também inevitavelmente forçados, não queria o gordo dos amendoins tão perto da sua avezinha de ouro...
Da casa de banho masculina, Hans sentia o cheiro de perfume caro de mulher, uma essência de flores frescas que nem todos os homens têm o prazer de sentir, ou pelo menos ele assim achava. Se entrasse pela casa de banho dentro, se ao menos tivesse coragem...
Gabrielle Gabrielle, case comigo e esqueça o francês magrinho, eu dou cabo dele assim que me der oportunidade, juro que dou. Juro que mudo, mudo de roupa e de feitio só para a ter ao pé de mim, só para lhe poder tocar nesses seios de fruta fresca, no seu traseiro do tamanho da minha face, por favor Gabrielle não me faça sofrer... Cante para mim mas deixe-me cantar, deixe-me a cantar de alegria, diga que é minha, vai dizer? Diga "sou tua Hans"
Sou tua, Hans.
Diga que me vai deixar dar-lhe prazer, que lhe posso tocar sem medo de a partir
Podes-me tocar meu querido, toca-me até a tua música não aguentar mais aprisionada áí dentro
Diga tudo o que eu quero, grite e gema comigo, que eu dou-lhe tudo o que quiser, todos os colares e luxos da Alemanha, até lhe compro a Lua mas cante para mim

De qualquer maneira, Hans acabaria por pagar. O jantar, caro, por todos os vinhos que beberam. Gabrielle sem trocar com ele mais do que uma frase
- passa-me o sal querido, passa?
Gabrielle voz de anjo, que seria dele sem ela? Sem a ver, sem lhe poder sentir o toque dos seus dedos frescos? Pagou caro a sua imaginação que o negócio dos amendoins acabou por não ir a lado nenhum, que o francês é demasiado orgulhoso para se impregnar de outro cheiro que não o seu próprio a perfume caro e água lavada.