Amuo

Hoje vou escrever sobre estados. Sobre os mais variados tipos deles, fechados dentro de caixinhas e espalhados dentro de cada um nós.
Conseguem imaginar caixinhas semelhantes a cascas de nozes espalhadas na nossa corrente sanguinea, transportando-se de um lado para o outro? É assim que eu gosto de pensar, ou pelo menos era assim que eu gostaria de ter pensado quando era pequenina... Acho que cresci depressa. Quer dizer, ainda continuo a gostar mais de me sentar no chão do que no sofá ou mesmo nas cadeiras, de pernas cruzadas à chinês e a lambuzar um chupa-chupa. Ainda sou infantil em muitas coisas que penso, em muitas coisas que acabo por dizer. Mas porque é que nunca acreditei no Pai Natal, nem no dito do coelhinho da Páscoa nem na Fada dos Dentes? Todas essas histórias sempre me pareceram absurdas, e apesar de todas as tentativas dos meus pais e avós para me fazer acreditar nisto, nunca os levei a sério. E eles também nunca fizeram o mesmo comigo, quando dizia que queria ser escritora. Quando dizia que queria ter um cão, que queria um irmão. Não eram devaneios de criança, eu queria mesmo essas coisas!
Foi por estas e por outras que amuei. Deixei que as caixinhas do amuo se espalhassem pelo meu sangue, até chegar à cabeça e ao corpo que responde aos poucos, de braços cruzados e fazendo beicinho. Será que o amuo é a resposta para todos os nossos males? Ou será melhor abrir as caixinhas de "pronto, esquece lá isso..." e deixar a sua mensagem tomar conta de mim? É que dessas infelizmente tenho poucas, e ando a guardá-las para ocasiões especiais. Para os exames nacionais, por exemplo. Para quando chegar a Julho e o dentista disser que tenho de aguentar com aparelho nos dentes até Setembro. Para quando não conseguir ter boa nota a Macs. Para quando não receber telefonemas, ou até mesmo mensagens que espero à semanas. Para quando o meu cabelo parecer que está do mesmo tamanho desde que o cortei à 2 anos. E agora, acham que já faço bem em amuar? Um amuo pequenino, que não vos chateie muito... Pode ser?