Edith

Como seria o retrato de uma louca meu amor, achas que ficaria parecida com o que me tornei? Mal me consigo reconhecer, fixei em todos os espelhos uma imagem que já não é a minha e começo a duvidar que alguma vez aquela cara serena de cabelos penteados tenha alguma vez existido senão na tua mente...
Hoje sou a louca que dança e que se balança rua fora, que se alimenta de recordações e que lê todos os livros ao contrário. O que é que queres que eu faça para mudar os meus hábitos, serão todos os felizes tão loucos como eu, tão loucos de felizes? Já me esqueci da tristeza, do medo de te perder, da minh figura e mesmo assim, continuo a ter vontade de correr pela rua fora! Será loucura ou simplesmente loucura de viver e de não mandar embora os espíritos bons que me penteiam os cabelos, será que andas no meio deles meu amor perfeito, será que mudaste muito desde o dia em que partiste e eu não te impedi? Não me consigo lembrar muito da tua figura, mas és de um negro tão lindo nos meus sonhos, tens todas as cores do mundo fundidas em ti.
Cada vez me comove mais ver um casal de enamorados, sabes? Lembram-me de nós, jovens e sem saber o que na verdade tinham... Porque é que eles fogem de mim, porque é que lêem nos meus olhos o prenúncio do seu próprio futuro, porque é que não gostam de saber que vai acabar mal e que vai ser parecido com o nosso, meu amor? Para mim foi perfeito.
Tu morto e eu morta por viver, cheia de saúde e de cabelo deixei-o comprido como tu gostavas mais... Hoje ainda me amas, sim não sim? As minhas mãos já não percorrem a tua barba espessa, os teus pés já não aquecem os meus na cama. Mas ainda me amas, não amas? Mesmo depois de ter destruído os teus retratos, de te ter deixado partir para a guerra e por não ter recebido as tuas cartas, perdoas-me por não as teres enviado? Depois de ter sufocado todo o nosso amor, ainda me amas? Eu amar-te-ei sempre, todos os minutos da minha vida. Não me alimentarei de nada até voltares, farei uma greve de fome, de sede e de sono tão grande que nem vão dar por mim. A louca deixará de o ser para ser só ar, perdido na tua figura até te ter nos meus braços.