Epifania, parte I


Os meus pés não são a única coisa que eu não sinto no meu corpo. Não sinto as mãos, não sinto os joelhos, não sinto a boca. O coração sentiu por todos.
Que coisa é esta de atribuir tudo o que se sente ao coração, tudo o que é de bom ou de mau? Os sentimentos não passam de estímulos, de coisas químicas das quais eu não percebo nada mas que mesmo assim, não deixam de fazer parte de mim. Gostava de poder comparar os sentimentos sei lá, às lágrimas; crescem por alguma razão, depois soltam-se à vontade ou mais contidas, depende da situação. As lágrimas vão, nunca mais vão ser as mesmas! Os sentimentos repetem-se vezes e vezes sem conta, o mesmo tantas e tantas vezes, e o problema - ou melhor, o meu problema - é que na maior parte das vezes, ao contrário das lágrimas, não os consigo conter.
Depois de ter chorado mais do que suficiente, o mínimo que eu podia esperar era que o sentimento se fosse embora, com as lágrimas. Mas ainda que seja muito cedo para descobrir, a verdade é que as imagens começam a tornar-se mais distantes, como num filme. Passam depressa, olhamos, reagimos e vão-se embora de vez.

" Se não estás bem
muda alguma coisa. "

Cheguei à conclusão de que devia ter começado mais cedo.