Quando eu e tu casarmos, parte I


O nosso casamento não é simples. Falando por mim, nunca fui de o imaginar. Nunca fui de me imaginar de vestido branco, de braço dado com um noivo sem rosto, acenando para os convidados. Aliás, acho que deve ser provavelmente o dia mais stressante da minha vida, a seguir ao dia em que for mãe pela primeira vez. De um pai incógnito, um bebé por fazer. Perdemos tempo a imaginar o futuro, aquilo que não pode ser comparado. E os programas que ando a ver? E as noivas brilhantes que parecem tão felizes, nem é pelos vestidos, é uma espécie de luz de quem acha que prendeu o futuro, mas eu também quero isso. Tu mais do que eu queres um final feliz, de história de encantar, a Cinderela e a Branca de Neve, pobres e desgraçadas, escorraçadas da sociedade, acabaram cada uma com príncipe mais encantado que o outro. Quanto a isto, nada a fazer. Mas tu e eu, que príncipe vai ter de ser... Mais eu que tu, eu com as minhas dúvidas, tu com o teu humor. Eu com as minhas fases, tu com a tua maneira directa de falar. Não pode ser fraco, não pode ser de papel. E pior que tudo, tem de jurar amar-nos até ao dia da nossa morte! Acredites ou não, isto é doloroso. Acredites ou não, ainda desejo e sonho com isto, por muito pouco possível ou realizável que aches que seja para mim. Desejo com todas as minhas forças, enfiar-me no raio do vestido e saber que também é possível eu ser assim, é possível que algo me assente tão bem como o tecido que me cola ao corpo, como a pele que já usava muito antes de qualquer um me fazer desfilar numa igreja. As coisas em que nós pensamos. Recusamo-nos a casar em tendas de plástico, com brinde em cima dos pratos. Recusamo-nos a casar no Verão, há mosquitos e eu não quero derreter para cima das flores do meu ramo. Tu queres casar de branco, mas tens medo porcausa do teu tom de pele. Eu não quero casar de branco porque não sou pura e se deus existir mesmo, há-de reconhecer e dar-se satisfeito por lhe pedir autorização para me juntar àquele homem no seu rebanho. Tenho medo das igrejas, da foleirada dos casamentos que vejo nos canais americanos, tenho pavor a tudo. Pavor a que não me aconteca, pavor a que não esteja destinado para mim. Eu prometi-te, vou estar do teu lado quando te rebentarem as águas. Promete-me que me vais ajudar a ficar, promete.