No meu cabelo
Uma pessoa é bem capaz de sorrir e tal, roçar-se devagarinho costas com costas, deitar uns olhares assim para o atrevido e mesmo assim, ficar indiferente. Uma pessoa é capaz de trocar os pontos de interrogação por pontos finais e ficar satisfeita com isso. Se tivessemos mais perguntas em vez de tantas certezas, as coisas seriam bem mais divertidas. Quero com isto dizer que é tão difícil apaixonar-se à primeira vista como arranjar bons amigos para a vida inteira. O segundo já vou tendo. Um grupo pequeno, pouco errante, muito entranhado, sem nada a acrescentar. Não é fácil fazer amigos. Principalmente daqueles que nos aceitam exactamente como somos, e ainda nos tentam desculpar quando dizemos palavras "especiais" à mesa de um restaurante muito chique. Depois há aquela sensação de que não pertencemos ali, que não é o nosso habitat natural como se fossemos macacos dentro de um palácio, e vamos embora da mesma maneira que chegamos, todos juntos. E isso, acreditem ou não, faz-me muito mais feliz do que 2 ou 3 amores à primeira vista. É como um grão de areia no cabelo da Marta. Uma pessoa é bem capaz de entrar numa loja, roubar 3 ou 4 pares de anéis só porque lhe apeteceu, a seguir comer 3 ou 4 tartes de maçã porque lhe apetecia qualquer coisa quente e fazer 3 ou 4 xixis e seguida no canteiro do centro comercial só porque estava uma pessoa à frente na fila da casa-de-banho. Quero com isto dizer que podemos ter tudo o que nos apetecer, mas se não tivermos ninguém que se ria conosco quando contarmos, de que é que vale roubar os anéis? Não é fácil manter os amigos. São piores que as plantas. Mas mais amáveis também.
