No outro dia, no carro.
Começou mais ou menos assim,
- A culpa é dos sinais, estão todos mal sincronizados!
E eu fiquei a pensar nesta história dos sinais mal sincronizados, se isto fosse na natação e o sinal fosse uma russa dentro de água era logo desqualificada. Quem é que treina os sinais afinal?
Mas não é esta a questão. Esta seria muito simples de responder se me apetecesse, e não é a tipo de perguntas que me interessam respostas.
A minha pergunta é sobre opiniões. Das coisas. De que coisas é que devemos ter opinião, e não quero saber se me vão responder "das mais importantes". Porque para alguém, os sinais de trânsito são importantes o suficiente para merecerem um julgamento carimbado em plena manhã, "mal sincronizados". Se os sinais são importantes e se devemos ter opinião até sobre este tipo de coisas, que coisas é que não merecem opinião? E se não tenho opinião sobre nada, será que posso inventar?
- O que é que achas de vestidos de noiva cinzentos? Acho um disparate o típico vestido branco, é horroroso e parece que goza com Deus ao ser usado por milhares de raparigas não-virgens
- Acho que o azul está na moda, bem que se podiam fazer mais vestidos de noiva azuis.
E inventar, e inventar, e inventar milhares de opiniões sobre todas as coisas do mundo, sobre os tapetes persas e raquetes de ténis, Croc´s e o regresso dos Keds, todas as opiniões que quisermos à distância de um clique, melhor! À distância da minha imaginação, caminho 1 milhão de metros num micro-segundo e acho isso bestial. E se de repente me acontecer alguma coisa, se de repente perder a memória, não vai haver problema em lembrar-me do que disse porque nada nunca fez realmente parte de mim, nada do que disse me fez sentido. Foi produto da minha imaginação, não meu. O cérebro não é meu, tem vida própria. Só a partir do momento em que sinto o digo é que posso ter problemas, irónico não? Se de repente perder o meu bem mais precioso, perder a minha memória por aí, não saberei nunca mais quem fui. Aí sim, talvez tenha de começar a inventar opiniões. Coisas que li nalguma revista, uso como minhas falas que ouvi nos filmes, na rádio, na rua. Vou ser uma pessoa pior por isso?
- O que é que achas das opiniões?
- Acho que toda a gente tem uma sobre tudo.
E mesmo que não tenha, mesmo que eu tenha inventado isto tudo que acabei de escrever, é a (minha) opinião (de alguém)...
Que palco para teatro eu acabei de construir!
