"não são horas, são segundos"


E foi assim que aconteceu, tudo muito rápido, eu cá tu lá, viu-o e tremeu, viu-a e pergunta
- e agora, fica tudo na mesma?
e ela não responde porque já não está lá, já não o ouve sequer a ele, se perguntarem por ela digam-lhes que sumiu, para ele, para todo o lado onde ele estiver...
E agora não fica tudo na mesma porque escureceu e a noite transforma as pessoas em sentidos e direcções, esquerda e direita, quando ele quiser mais faça sinal que alguém há-de compreender e sussurrar ao ouvido dela
- ele vê-te
e vai ser o melhor elogio que alguém lhe poderia ter feito porque ela não vê mais nada, nada, quer gritar coisas que não fazem sentido e depois sentir-se-ia pesada, muito pesada como uma tonelada de ódio preso aos ossos, mas sempre achou insuportável sentir-se leve, seria como um copo vazio. Onde é que está a pessoa para o encher? Também tem os olhos vendados e fica tão bonito nas luzes, nos gestos, em pleno terreno ela questiona-se
- como é que me vês
a pergunta passa do como para o porquê, e ele não sabe responder, como se lhe tivessem perguntado o que é que pensa de morrer jovem, porque nem sequer sabe o que fazer com a resposta, não mudaria nada nela nem a faria mais feliz, encara simplesmente o facto de a ver como um dom concecido aos amantes e não reclama porque um dom nunca deve ser reclamado, apenas vivido em toda a intensidade da palavra...
E se eles deixam de se ver? Se toda uma imagem ficar distorcida por...outras coisas? São factores que não se controlam. São factores com os quais não se contam, e que não se contam muito menos um ao outro. Eu cá tu lá , vêem-se e as pernas tremem porque sim, porque este género de coisas acontece e ela só quer que aconteçam sempre, má sorte para quem quiser ser visto por estes dois...
Já eram.