É isto.

Deu-me uma nostalgia.
Pus-me a pensar nas Grandes Esperanças, no facto das coisas nunca correrem exactamente como queremos e não adianta por mais planos que façamos, há sempre alguma coisa que os muda. Mas isto é tão certo como o amanhecer, e para dizer coisas destas mais vale estar calada, ou melhor, não escrever.
Mas é verdade é que foi mesmo nisto que se baseou a minha nostalgia, nas Grandes Esperanças - falhadas. O que é que podemos fazer para as combater? Porque é que hão-de falhar sempre, porque é que nunca há nada que lhes corresponda? Não estou à espera de respostas, acho que mesmo que tivesse uma oportunidade de as encontrar as mandava ir dar uma volta. Vou antes responder a mim própria com um poema.

Alma Perdida
Florbela Espanca

Toda esta noite o rouxinol chorou,
Gemeu, rezou, gritou perdidamente!
Alma de rouxinol, alma da gente
Tu és, talvez, alguém que se finou!

Tu és, talvez, um sonho que passou,
Que se fundiu na Dor, suavemente...
Talvez sejas a alma, a alma doente
Dalguém que quis amar e nunca amou!

Toda a noite choraste... e eu chorei
Talvez porque, ao ouvir-te, adivinhei
Que ninguém é mais triste do que nós!

Contaste tanta coisa à noite calma,
Que eu pensei que tu eras a minh´alma
Que choraste perdida em tua voz...!