É como se estivesse sempre a pensar para mim que nunca sou boa para ninguém. Pior do que não ter amigo nenhum é a sensação de os perder a todos. Pior do que ser um cão à chuva é sentir-me "instantanea" como as máquinhas fotográficas que se compram e que dão muito jeito enquanto servem para alguma coisa, que é no seu caso tirar fotografias. Eu não tiro fotografias. Fui catalogada de "melhor amiga, até que a morte nos separe, para o infinito e mais além" e nada disso se nota, nem sequer se aproxima do que se passa. Será que além de não tirar fotografias, também me tornei descartável? Isto tudo é uma ameaça ou um aviso amigável? Será que me andam todos a fazer uma espécie de ultimato, com raiva e medo de mim? Eu é que tenho medo das coisas, assusto-me com os aquecedores no escuro. Mas eu não tenho medo dos meus amigos, eu gosto deles. Sou uma escrava do apetite e uso calças asfixiantes, mas gosto deles e eles gostavam de mim até a um certo ponto.
O que é que mudou? Foi por ter cortado o cabelo, por ter cortado as unhas que me transformei no objecto dos bonecos de vudu?
Mas no final de contas, ninguém se importa com nada. Ninguém se importa que chova em cima uns dos outros, ninguém se importa de dizer "amo-te" sem significado nenhum, ninguém quer saber de ninguém. "as pessoas de quem mais gostamos são as que nos magoam mais". Porquê? Porque é que isto é certo e no entanto, não faz sentido nenhum?
As pessoas com pés grandes hão-de se pisar a si mesmos.
