Para onde foram as pessoas boas?
Farto-me de andar pela cidade e não as encontro em lado nenhum. Primeiro levanto as tampas das sarjetas e espreito; grito por todos os nomes que conheço, espero uns minutos pela resposta e quando esta não chega, volto a fechar a tampa, com tantas ou tão poucas esperanças de quando a abri.
Depois repito o processo com as pedras da calçada, com os buracos na estrada e com as poças de água (até com as mais pequeninas e imundas), onde meto a cabeça até ao pescoço e volto a tirar. Ao fim do dia, chego a casa suja, a precisar de um banho que me lave as ideias e diminua a pressão. Água daquela mole em pedra dura, tanto bate que vai ter de furar.
Um dia vou-me fartar de procurar na rua e vou começar a procurar nos canais de televisão, talvez começe pelo Discovery Chanel; está cheio de homens dispostos a arriscar a vida para provar que os crocodilos têm fígados azuis. E quando me fartar talvez arrisque o Disney Chanel, onde me posso perder ou ficar fascinada com as cores ao ponto de trocar os olhos.