Entretanto regressei às aulas e vontade à parte, sento-me na cadeira numa postura correcta, mordo a ponta da caneta e olho para a pessoa que gesticula à minha frente, que me tenta vender o seu peixe da educação. Geralmente, olho em volta, tanta gente como eu, que rói as unhas, analisa o verniz, coça os braços várias vezes, experimenta a posição da mão e do estojo em cima da secretária. E por isso, tenho pensado no cabelo. Toda a gente está de costas e para mim, costas de mulher são praticamente todas iguais. O cabelo não.
O quê?
O cabelo sim.
Também tenho pensado. O meu cabelo reflecte a minha atitude, se o pinto tantas vezes é porque preciso. Se o corto tantas vezes é porque ambos precisamos: ele de ficar saudável, eu de ficar diferente. Apesar de tudo, há dois tipos de definições comuns que ligo aos cabelos e ao corte. Cabelo comprido, sexy e natural. Cabelo curto, estranho e fora da margem. Se tiver um cabelo comprido estragado sem piada nenhuma e que não me fica a matar, ao menos é comprido, logo alguém há-de gostar. Se tiver um cabelo curto bem tratado, arranjado, que me fica bem, tem pouco por onde agarrar e o meu sex appeal diminui aos olhos dos outros a uma velocidade inqualificável.
Hoje por isso, eu pesquisei. Encontrei mulheres fortes, lindas e seguras que nada deixam a desejar pelo seu corte de cabelo. Fantástico, acho eu. Até porque faço parte delas.
Sou do clã M.I.A, Santigold, Rihanna, Alexa Chung, Keira Knightley, Emma Watson e da recém-chegada Miley Cyrus.
Quando toda a gente tiver o cabelo comprido, que alguém seja a única da sala a sentir o ar fresco no pescoço sem precisar de o ter apanhado. Que o possa mexer na praia sem escorrer, pentear apenas uma vez e ficar bonito, sem deitar muito cabelo. Para mim, mais do que dar-me jeito, faz-me sentir bem. Por isso é que as louvo. Por serem mulheres-homens num mundo de homens, um bocado mais próximas pelo corte de cabelo. Talvez por isso sejam tão intimidantes.
Gostava de pensar mais em mim como intimidante. Mas não muito.
