Antes dos nós, há os laços. Antes de nós. Os laços cor-de-rosa de amizade, do cancro, do apoio a boas causas. Já vêm apertados de fábrica, quase sempre a mesma estrutura, o mesmo propósito por si só tão bom, ajudar o outro, parte da nossa simpatia e da humildade. As cores assim os definem. O amor não é cor-de-rosa, nunca foi. Os laços vermelhos são aqueles que queimam. Acho que também ajudam boas causas, já devo ter visto ou vivido uns quantos vermelhos. Aquecem a alma, às vezes também demais. Começa a cheirar a carne queimada. Os laços vermelhos perdem a cor. São a paixão. Nisso os cor-de-rosa têm vantagem, cor-de-rosa por muito que se lave vai parecer sempre cor-de-rosa. O vermelho não. Mais depressa fica desbotado, e infelizmente já ninguém usa roupa desbotada, vá-se lá saber porque é que passou de moda. Há mais laços. É provável que haja, mas não quero perder tempo a classificar todos um por um. Cada um tira deles o significado que quer. O laço do sexo, mais nó que outra coisa qualquer pela sugestão natural, ata-se com a mesma facilidade com que se perde, se deixa no chão à espera que outra pessoa passe e o apanhe. Com os nós já é diferente. Não se tem de passar por todos os estados de laço, ninguém obriga. Os nós é a viagem do patinho feio até se tornar cisne, qualquer coisa do género. Pelo menos é assim que vejo. O que são nós senão um conjunto baralhado de laços? Uso as metáforas a meu favor, e uso-as como eu quiser. Para mim os nós confundem-se com nós. Tão apertados, desarrumados mas disparatadamente juntos, revoltados, baralhados e agarrados uns aos outros, tanto que se amam os laços, tanto amor que fazem entre eles, como é que não podíamos dar origem a nós? Isto que somos, nada mais que laços evoluídos que não desatam. Ai deles que se desatem. Se nunca tivesse conhecido o amor e olhasse para eles diria que são parecidos. Os nós e o amor. Só nós e...