Sobre aniversários

Ultimamente tenho caído na moda de me aborrecer com eles. Por eles, ou qualquer coisa do género. Não tenho nada contra, mas não me apetece. Estamos sempre à espera que qualquer coisa mude subitamente, sopramos as velas e a janela da sala abre-se de rompante, aparece a Fada Madrinha escondida nos cortinados durante não sei quantos anos e o tempo pára por uns minutos, só contamos nós e (estilo Pinóquio ou Cinderela eu sei lá) concede-nos mais não sei quantos desejos que despejamos consoante a nossa vontade naqueles 5 minutos. A minha era que me levasse dali, o meu amor é grande mas que me levasse dali ou que me encurtasse o dia e me mandasse para onde eu queria.
Este ano. Como todos os outros. Não há Fada. Há outras coisas. Estando ela ou não escondida, a verdade é que me dá um certo gozo verificar a quantidade de coisas que mudam de um ano para o outro. Se tivesse ficado careca ou sem dentes seria um gozo mórbido, mas não. Tenho cabelo. Este ano pelo menos, tenho coisas diferentes. Estou "mais crescida". "Mais responsável". Ainda nem fiz anos e já sinto o peso da idade. Este ano junto o útil ao agradável. Se me aparecesse a Fada, cortava-lhe uma fatia de bolo e mandava-a sentar entre as minhas avós, talvez aprendesse mais qualquer coisa do que a vida não ser só conceder desejos e aparecer quando lhe apetecesse. Fazia-lhe bem conviver, ver a novela e essas coisas. Casar-se. Ver-me crescer, mas de perto. Mandar um postal de vez em quando. Os aniversários são bons, ou pelo menos devem começar a ser quando esquecemos as Fadas. Ou arranjamos umas sem asas, bem reais, macias e simpáticas, que nos adoram e oferecem bolo ou podemos viver à espera de um bom aniversário sempre. As Fadas não me concedem beijinhos, abraços, festinhas na cabeça e frases carimbadas estilo "estás tão magrinha...". Não me dão alegrias, não todos os dias. Por isso, sobre os aniversários. Mesmo que não sejam o melhor dia do ano. É melhor quando juntamos. Tudo. De todas as maneiras possíveis.