O blog foi

ao cabeleireiro, mudou de visual, aproveitou para passar no circo e se apresentar como disponível para substituir o rapaz que cuspia chamas na maratona de meter medo aos pais e aos filhos que se aventuram pelo circo, despediu-se do emprego de carteiro da aldeia e começou a trabalhar assim que o circo abriu no dia seguinte, às 6 horas da manhã, estava muito frio mas o blog nem se importou, queria era ver-se livre das cartas o quanto antes e tinha um penteado novo, estava giro, e era o novo cospe-chamas oficial, ensinaram-lhe uns truques para a garganta, começou a fumar e a cuspir perfume da boca, só lhe faltava arranjar coragem de convidar a trapezista para tomar um chá na caravana dele, agora que era artista tinha uma só para ele, cheia de flores e garrafinhas de bebida, muitos isqueiros e desodorizantes para treinar a arte. O blog sentia-se feliz, estava ligeiramente mais concretizado do que quando era carteiro e não tinha reconhecimento nenhum, ele queria era as palmas do público, os guinchos das crianças e as flores atiradas ao palco, gostava de vestir roupa justa e brilhante, as lantejoulas realçavam-lhe os olhos claros e as luzes cegavam-no ligeiramente, quando chegasse aos 47 anos estaria cego que nem um rato mas lembrar-se-ia sempre das luzes que inundavam o circo. Senhores e senhoras deixem passar o blog mais exibicionista do mundo, aquele que cospe-chamas só para vosso deleite, aquele que brinca com a vida (e com a própria garganta!) sem medo de ficar com voz chamuscada! Aquele que faz tudo pelas vossas palmas, pelos vossos sorrisos e pelos umbigos, atirem-lhe flores que ele não só cospe fogo como até cospe o fígado, não querem ficar para ver mais?
O blog era um daqueles casos extraordinários de coragem e fraqueza. O blog infelizmente ainda não é humano, ou somos um ou somos o outro, e até eu que já cuspi fogo ainda não percebi que blog sou.