Farinhas, sacos e algumas bolas

Hoje estou numa de divagações. O que as noites não fazem a uma refeição da manhã como eu.
Vamos lá ver. Nós, meninas, temos um problema. Aliás, temos vários. Estamos frente-a-frente com uma enorme quantidade de questões que na maior parte das vezes ultrapassam a nossa racionalidade e isso deixa-nos loucas. No fundo, resume-se tudo a uma questão de farinhas, bolas e outras coisas do mesmo saco. Aquela história do "é tudo farinha do mesmo saco" choca constantemente na minha cabeça com uma outra história bem mais popularucha, a da Carochinha. Na primeira, alguém chega à triste conclusão que seja quem for, homens, mulheres, cães, gatos, são todos iguais, e esta serve de justificação para tudo. Pode ser a resignação dos solteirões. Não faz mal porque são todos iguais. Ou pode ser a tristeza das românticas. Na Carochinha, as coisas mudam um bocado. As meninas ouvem a história em pequeninas, ficam mal habituadas, pensam que basta uma janela, uma carinha laroca e uns tostões para arranjar um homem que as queira muito e muito bem e tornam-se umas românticas incuráveis, dão-se uma e outra vez, pensam sempre que é a última e afinal nem chega a ser a última vez que prometem que é a última vez que se apaixonam, meu deus, é um ciclo vicioso de últimas vezes, toda a gente precisa de acreditar em alguma coisa.
E agora? Onde é que ficamos? Preferimos as bolas do mesmo saco, vamos tirando uma a uma, jogamos um bocadinho e "jogamos fora", sem pensar que pode ser a última bola que nos sai? Ou acabamos Carochinhas, à janela à espera do João Ratão que, estúpido, tinha de ser ganancioso e querer a sopa toda, lambão, não podia contentar-se com uma colherzita? O rato preferiu a sopa à mulher. Isto sim, é triste. Já não me lembro se morreu dentro do caldeirão ou se foi lá alguém salvá-lo de um afogamento em sopa de legumes. Eu tinha-o deixado lá. Betonava a janela, usava os tostões para comprar um fato de cabedal e ia salvar o mundo do Mal.  Mandando homens à sopa. Pegando fogo aos sacos para que as mulheres como a Carochinha não tivessem tentação de enfiar lá a mãozinha e prometendo a elas próprias, "esta é a última, eu juro pela minha saúde que é a última". A fazer juras assim quem acaba dentro da sopa são elas.
E depois existo eu.
Que mesmo depois disto tudo ainda tenho lata para dizer que o amor é lindo.