vamos embora.

Na minha opinião vivemos num mundo demasiado insatisfeito para o meu gosto. O planeta arde no Verão e depois tem sede, chora a potes durante semanas para se saciar e depois, mesmo reconhecendo-se um louco da cabeça, volta a fazer o mesmo. No outro dia, a maior das minhas amigas olhou para o prato da salada e disse sobre a mulher que nos serviu, "´pá para pôr esta salada mais valia não ter posto nada..."
Mas eu esforço-me. Esforço-me para continuar com o mesmo entusiasmo com que me deparava com os saldos da Zara sem saber, e entrava sem nenhum interesse em especial, talvez apenas para ver as colecções passadas e tirar ideias para as minhas actuais. Mas quem me conhece reconhecerá que sou preguiçosa e que na verdade, não tenho método. Também no outro dia, (é de uma quantidade considerável de "outros dias" que a minha sabedoria se constrói o que confirma, o meu método não é na realidade método nenhum) outro dos meus maiores amigos referiu-se a mim de uma maneira tão simples que até nem me lembro das palavras exactas, queria ser-lhe fiél mas foi qualquer coisa deste género,
- Tu fazes coisas sem sentido, e as algumas que têm sentido tu nem sequer sabes quais são, por isso não faz diferença
Será? Talvez. Agradeço-lhe por ter tentado definir-me a mim, e aos poucos, por ter tentado definir a nossa geração. Porque o que nós pelos vistos partilhamos é a falta de sentido e de respostas para uma enorme quantidade de coisas, um medo terrível de falhar mas para culminar nisto tudo, a verdadeira e real salada é a insatisfação, que foi precisamente onde isto tudo começou. Não devíamos aborrecer as pessoas que nos querem ouvir. Sim, estamos pouco satisfeitos e depois? Há coisas e coisas para pagar, e nós não podemos fazer nada. Há outra vez o país a arder, e depois inunda-se, dá vontade de lhe gritar se ele é estúpido ou quê, se faz de propósito para se ensopar e para tirar as casas às pessoas, e nós não podemos fazer isso. Quem fala com a terra é maluquinho. Estamos todos aborrecidos, e pronto.
Nunca mais se inventa uma máquina de fazer dinheiro. Nunca mais se inventa uma máquina de fazer bons amigos, temos que procuró-los a todos até à exaustão, a exaustão costumava ser tão sexy porcausa do suor a escorrer e isso tudo e agora tornou-se numa coisa normal, curriqueira, mais outra coisa para nos aborrecer. Estou farta de estar cansada, que raio. E acima de tudo estou farta que ninguém faça nada para mudar.
Começar por um cortezito de cabelo. Ou assim. Acredito que começemos por nos sentir menos insatisfeitos conosco e aos poucos, com os outros. Estou a ser demasiado crítica, também sei. Outra característica da nossa geração, seja ela qual for. Só não me apetecia que estivessemos de passagem, que marcassemos realmente por alguma coisa de positivo. Onde estão os Beatles do nosso tempo? Manifestem-se! Porque eu acredito, o que não falta por aí é gente boa com vontade de crescer. Mas falta-nos uma ideia. Ainda espero, espero por um miúdo qualquer que tenha uma ideia suficientemente boa para nos fazer crescer, para fazer o planeta aprender de uma vez que é feio descontrolar-se e que já tem idade para ficar sossegadinho e ser mais previsível, um miúdo tão esperto que nos vai fazer mudar a maneira como olhamos uns para os outros, e eventualmente, para as coisas. Juro, dava-nos tanto jeito uma coisa assim.