De repente. Ficou sem temas. Ficou sem nada por onde pegar para escrever.
Mas. Ainda mais de repente. Se é que é possível. Pensou:
- o mundo é uma sacana duma inspiração.
E tudo isto em 5 minutos. No autocarro.
Ainda nessa manhã. Tinha fotografado um amigo. Tinha-lhe tirando os anéis e colocado em todos os dedos, deixando nas pontas os que não cabiam até ao fim. Pegou na caixinha que tinha as minas de lapiseira e puxou uma para fora. O suficiente. Para parecer uma seringa. Tinham estado a falar de drogas na aula. Com a mão cheia de anéis, fingiu espetar a lapiseira na veia. Na mais saliente. Riu-se tanto que a veia ficou encarnada. Esburacada. Parecia real. A mão cheia de anéis espetava uma seringa cheia de carvão na veia. Riram-se todos. E tirou a fotografia. Ainda está no rolo. Por revelar.
- o mundo é uma sacana duma inspiração.
Para não se esquecer nunca mais. Para nunca mais ter motivos para pensar o contrário. Tatuou. Qualquer coisa. Que lhe fizesse lembrar. Qualquer coisa. Como,
- se o mundo me deixar, eu continuo nele até ao fim.