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Olha. Vamos fazer assim. Encontramo-nos às horas do costume, tu para tomares café e eu para pedir uma torrada, pelo menos peço-a e depois logo decido se a como ou não. Depende do meu apetite. Depende dos beijos que me quiseres dar.
Depois, contas-me o que tens feito, de bom e de mau. Se tens tratado bem o teu irmão mais novo, se tens tomado os medicamentos todos e não os deitas pela sanita abaixo como costumavas fazer até a tua mãe descobrir. Não és mais esperto que elas, já Jesus tinha mãe e tu ainda nem existias.
Quero saber como andam as flores do prédio, quero saber se ainda gostas deste vestido amarelo ou se a cor te passou a irritar, assim, de repente. O mesmo com o tom do meu cabelo, a cor das minhas unhas, os jeitos da minha boca enquanto falo. Quero saber tudo. Quero que me digas tudo e que depois esqueças tudo o que me disseste, seja da boca para fora, da boca para dentro ou para os lados. Seja como for, sai sempre e eu ouço tudo, sim, eu ouço tudo e dificilmente esqueço. Por isso, encontramo-nos à hora do costume, vou-me lembrar sempre qual é, e depois fazemos o que tivermos a fazer. Declaramos guerra no meio do café e levantamos a bandeira quando tiver de ser, o primeiro a fazê-lo terá certamente a aprovação do outro. Não gosto de guerra. Não gosto de não ter tempo. Quando nos encontrarmos e pedires o café e eu a torrada, quando a chávena não tiver mais café nem o prato mais torrada, logo se vê como é que nos arranjamos quando chegar a hora de pedir a conta.