Que mal fizeram eles para ser falados?

As pessoas demasiado doces vão acabar por se comer a si próprias. De qualquer maneira, acabarão comidas mais cedo ou mais tarde. Vão-se colar a todo o lado, porque de tão doces tornam-se pegajosas, como um fungo ou uma praga. O que vale é que começa a haver cada vez menos dessas, são uma espécie em vias de extinção. Cansaram-se de si próprias e tornaram-se mais salgadas, começaram a fazer mal ao colestrol em vez de atacar logo a barriga. Há quem as prefira assim. Eu. Habituei-me a não beber chá nem café com acuçar e agora, tomo-lhes mais o gosto. Sei verdadeiramente ao que sabem, conheço as suas falhas e gosto. Mais uma vez, eu. Habituei-me ao café sem acuçar, mas nunca a um peixe grelhado sem sal, bacalhau ou batatas fritas. Porque nunca lhes conheceria o gosto nem as falhas. Porque o açucar é um mentiroso, atrai as formigas e pessoas manhosas, cola-se ao nariz como uma segunda pele com a facilidade de quem adormece um bebé cansado. O sal não mente, mas afasta os espiritos maus e as almas enganadoras. O sal purifica, as dores e as feridas.
Quem sou eu para comparar as pessoas más às pessoas boas, chamando-lhes sal e açucar? Quem sou eu para me encaixar em qualquer um deles, para ofender tais condimentos?
Não sou ninguém. Sou mais um bocadinho de sal ali, mais uma mão de açucar para lá. Sou tudo. Somos tudo e mais alguma coisa, todos somos sal e todos temos açucar a mais no sangue, dependendo dos dias. (I)literalmente. E dou-me por satisfeita.