Em resposta a estímulos


Em resposta a estímulos, quero falar das minhas sensações. Do quão delicioso para mim é o cheiro da terra molhada. Sempre achei que a combinação da terra molhada com as primeiras folhas de Outono cheirava a rabo. Mal lavado. Quando era mais pequena considerava aquele cheiro insuportável, toda a Avenida da Liberdade a cheirar a rabo mal lavado. Ainda acho que esta combinação cheira a rabo. Mas até os rabos mais mal lavados da cidade têm direito a ser amados... E eu amo a minha cidade, por me trazer tantas recordações. Todo o cheiro lembra-me dos meus avós. Da casa grande e lavada, antiga e cheia de madeiras e escuros. O cheiro a Outono é mais sério, lembra-me que não vou ser sempre criança. Já na altura pensava assim. Só nunca pensei ser capaz de amar este cheiro, como nunca pensei vir a gostar das roupas que usava em miúda. Aquelas t-shirts do bambi. Ficam tão sérias com calções de tecido.
Os cheiros são das percepções mais estimulantes que conheço. O cheiro da terra molhada, o cheiro a escola e a ginásio da escola, porque é que não se guarda para sempre? Porque é que não posso guardar o cheiro de todos os que amo num frasco? Metê-lo ia ao pescoço. Prometo que usarei tudo o que me fizer lembrar disto, destes dias de autocarro em que o cheiro da terra entra pelas portas.
Será que mais alguém o sente assim? Não com as narinas, mas com o coração.